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ENTREVISTA: 99 Cent Store, After School e mais - Melanie Martinez para Grammy Museum (TRADUÇÃO)

Screenshot remasterizado da participação de Melanie no "Behind the Songs"

Você já se perguntou como foi que aconteceu todo o processo de criação dos álbuns de Melanie Martinez? De onde veio a Cry Baby, de onde Melanie teve essa ideia, em quem ela se inspira, como ela trabalha nos sons do álbum? As respostas para todas essas perguntas se encontram aqui nessa entrevista que Melanie concedeu ao quadro "Behind the Songs", do Grammy Museum.

Ela falou sobre como vem trabalhando desde o seu álbum de estreia, Cry Baby, até o seu mais recente lançado EP, After School. Sabia que as faixas "Glued" e "Field Trip" quase não seriam lançadas? E mais, Melanie também contou um detalhe sobre a unreleased "99 Cent Store". Confira abaixo a tradução na íntegra feita pela equipe do Daily, porque essa entrevista está muito boa. Logo abaixo do player:

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"Mark Conklin: Bem-vindos de volta ao "Behind the songs", do Grammy Museum Experience - Prudential Centers, a conversa online e performances com artistas, compositores e produtores, discutindo as histórias por trás de algumas das nossas músicas favoritas. Eu sou seu anfitrião, Mark Conklin e também sou diretor da programação das Relações Artísticas no Grammy Museum Experience. Nossa convidada hoje é a multiplatina, sensação do pop: Melanie Martinez.


Ela lançou recentemente seu EP "After School", com sete faixas, que também são parte da última versão do seu internacionalmente aclamado álbum, K-12, que foi indicado a Billboard Award. Vamos falar sobre algumas músicas dos seus projetos, voltando lá para o Cry Baby e tudo mais.


Melanie, bem-vinda ao Behind the Song, é muito bom ter você aqui!


Melanie Martinez: Obrigada por me receber, estou feliz por estar aqui.


Bem, primeiro eu queria perguntar como as coisas estão para você, com todas essas coisas acontecendo no mundo, o Covid, e etc. Manteve a criatividade da forma que gostaria? Você estaria em turnê neste verão.


Sim, eu tenho mais tempo para escrever músicas e trabalhar no meu próximo álbum, o que é animador para mim, mas claro, eu sinto saudades da turnê e de performar. É como uma espada de dois gumes, sabe?! Mas sim, criativamente, sinto que tive alguns bloqueios, às vezes eu fico mais presa liricamente, não consigo pensar em nada, nem sequer nas melodias. Então de vez em quando eu faço uma pausa, vivo a vida e absorvo o que estou vivendo, e depois posso voltar e introduzir o que estou vivenciando na música e na arte.


Sei que toda a sua música parece muito pessoal, mas fiquei curioso com o ponto de vista da escrita, você está pensando como uma escritora de ponto de vista de ficção? Não me entenda mal sobre os elementos fictícios, mas você já escreveu alguma vez algo que não são histórias? Ou geralmente é mais pessoal?


Definitivamente, é como uma mistura de ambos. Tipo, eu amo ter a oportunidade de criar através da visão de uma personagem, onde eu posso expressar minhas próprias emoções e as coisas que estou sentindo, mas de uma forma muito elevada e através da visão de uma personagem. Há histórias diferentes em que a Cry Baby estaria passando, e posso falar sobre tantos tópicos diferentes, onde muitos que estão ouvindo, possam se identificar e se relacionar de uma maneira mais específica na sua própria história. Mas também, expressar as minhas emoções através dessa personagem. É muito divertido para mim, criar histórias. Gosto de adicionar alguns elementos pessoais também.


Conta para a gente sobre a Cry Baby, tipo, de onde ela veio, como aconteceu... Você se lembra da primeira vez que pensou nisso, o conceito que você tinha. Lembra quando foi?


Sim. Eu sinto que foi uma espécie de desenvolvimento gradual de descoberta dessa personagem, ela foi baseada na minha própria sensibilidade que eu sentia quando criança. Eu me senti muito como... eu não sei, acho que muitas pessoas descrevem como empata, realmente me identifico com isso. Sentindo as emoções em uma sala, quando eu entro e consigo sentir toda a energia de lá, energias pesadas ou orbita uma positiva. Eu sinto essas coisas, eu queria criar uma personagem que expressasse a verdadeira essência de quem eu sou, mas também poder criar essas histórias, novas ideias e conceitos sobre as coisas que eu observava o tempo todo, que não eram necessariamente, algo que eu estava passando no momento. Mas acho interessante olhar para trás e ver a forma como eu escrevo músicas no geral; canções, ideias, conceitos, é sempre do começo ao fim, então eu acho interessante que com o meu primeiro álbum, comecei com o início da existência da Cry Baby, o início da existência da personagem no mundo, sabe, a partir do momento em que ela nasceu e o K-12 segue isso, com ela crescendo no mundo, e em seguida, poder apresentar esses personagens para expandir o mundo. Naturalmente, acho que os meus álbuns seguirão essa progressão, do começo ao fim, e continuarão a evoluir dessa maneira. Acho que meu cérebro está funcionando muito linear, quando crio.


Certamente, talvez com o K-12 tudo pode ter sido bem diferente do Cry Baby, porque ele tem esse tipo de enredo. Você tinha o título em mente, tipo, esse vai ser para isso aqui, e em seguida, esse tem que preencher esses buracos? Ou você ia escrevendo as músicas e encaixando?


Sim. Eu queria escrever sobre nostalgia com o Cry Baby e eu iria voltar para as minhas inspirações de infância e escrever um monte de títulos que foram influenciados, ou ideias que eu podia tirar da minha infância. Os temas... ou títulos, tipo "Cake" é como açúcar revestido, geada no topo, nós realmente vimos coisas com o tema que eu estava falando, era muito mais adulto, porque estava escrevendo sobre o que eu observava durante o meu crescimento, na minha idade adulta, e as coisas que eu estava testemunhando. Então há uma espécie de dualidade entre o título, que era como uma criança na fachada, como eu disse, por trás disso, havia uma camada escura profunda, tipo histórias que estamos nos baseando nas observações, coisas que eu estava experimentando e outras coisas. Eu realmente gosto de contraste para que seja um desafio e é muito divertido escrever assim.


O quanto muda... desde o título, rascunho... geralmente vai na mesma linha da primeira ideia ou muda até o final dela?


Acredito que o meu processo é principalmente começando escrever um monte de títulos dentro de um tema, então eu escrevia vários títulos e ia para o estúdio com uma melodia gravada com meu celular. Na progressão final de acorde, eu gosto de manter em loop, sentar num canto e escrever a música do começo ao fim, para usar o título de uma maneira muito clara, onde ele vai ser uma metáfora para qualquer assunto ou coisa que eu estava falando.


Por exemplo, com “Mrs. Potato Head”, eu pensei que era interessante brinquedos com o conceito dela, onde podemos reorganizar e personalizar as peças para mudar o rosto, e eu facilmente posso relacionar a isso a tendência da cirurgia plástica, observando essa tendência e o tipo de condicionamento que a sociedade e a mídia impõe sobre mim e a minha geração, sabe, como constantemente querendo olhar uma maneira certa de ser aceita. Eu apoio plenamente as pessoas que fazem o que querem e o que as deixam confortáveis com seu corpo, então é menos sobre um julgamento, mas mais sobre uma observação que estas pessoas estão testemunhando, essa tendência. Mas novamente, é divertido encontrar essas metáforas para poder falar sobre esses tópicos ou coisas que existem no mundo.


Quando você soube pela primeira vez que você meio que tinha esse dom de juntar palavras e música? Algumas pessoas chamam de… se não me engano foi o  Springsteen que disse que era truque de super-herói. Mas quando foi que você soube pela primeira vez que você tinha isso?


Não sei bem. Eu escrevia muito poesias quando era mais nova e agora faço coisas parecidas, adorava pintar, confeccionar coisas, fotografar, coisas do tipo etc. Então sempre amei arte, mas acho que quando tinha quatorze anos foi quando eu quis tocar violão, então eu aprendi sozinha usando diagramas de acordes online, tutoriais no YouTube e outras coisas que depois começaram a combinar com a minha poesia. Isso também era muito visual, eu adorava usar metáforas, usar como temas visuais interessantes para representar uma história que era muito mais profunda. Comecei a juntar tudo com uns quatorze e quinze anos, depois fui ficando mais velha, lá pelos dezessete, dezoito anos, foi quando descobri como era o caminho de me tornar uma artista e compositora.


Visualmente, você tem um estilo estético. Você sabe dirigir filmes agora, e isso é um presente para você. E você usa várias imagens em suas letras para que saibamos que há uma emoção, a música é emocional, mas nem sempre é exatamente como eu me sinto. Você está usando imagens para fazer isso, então quanto disso vem do filme? Mas também estou curioso, você lê muito? Se for assim, existem certas coisas que têm tipo, uma inspiração para você, isso faz você focar mais ainda na sua escrita lírica?


Tudo de uma forma coletiva, que eu já tenha escutado, visto e até passado por minha minha vida, entende? Tudo isso me influenciou de alguma forma, conscientemente ou não, acho que visualmente posso citar as minhas maiores influências sendo o trabalho do Mark Ryden e Nicoletta Ceccoli, esses são meus artistas visuais favoritos e em relação a leitura, tudo que eu leio me influencia, eu não li muitos livros durante o processo produção do “Cry Baby” e “K-12”, não tanto quanto estou lendo agora na produção de meu novo álbum, eu não quero revelar muito sobre isso, tipo eu não sei o que pode surgir, porque ainda estou trabalhando nele, mas estou encontrando mais livros que influenciem no meu trabalho, muito mais do que antes, nos outros álbuns eu estava mais inspirada por artes visuais.


Conte sobre o seu processo colaborativo, claro que você trabalha com produtores e às vezes até mesmo um co-compositores, como isso tem sido para você, tem sido uma transição fácil para você? Quero dizer, você foi de uma criança fazendo coisas de compositores, para trabalhar com um monte de gente da àrea.


Co-escrever é algo difícil, ainda tem sido algo difícil para mim, a única pessoa com quem eu tenho co-escrito algo hoje em dia é o Jeremy “Kinectics”, da dupla “Kinectics & One Love”, e eu gosto de escrever... na verdade estou compondo algo com ele agora mesmo para o meu próximo álbum, e eu posso dizer que a diferença é essa, no “K-12” muitas das letras e melodias eu compus sozinha, e geralmente é assim que eu trabalho, foi esse mesmo processo com o “After School”. Eu sentava em um cantinho e escrevia tudo sozinha, do início ao fim, uma vez que eu terminava, eu ia até o microfone, gravava tudo, e era isso, e ponto. Então dessa vez, estou meio que voltando às raízes do “Cry Baby”, estou trabalhando com o Jeremy de novo e nós ficamos jogando ideias um para o outro, e ele é muito talentoso, ele consegue imaginar as coisas ali mesmo, na hora e diz, e eu sou do tipo de pessoa que o processo é muito mais interno, eu sento sozinha e escrevo, penso comigo para planejar a forma de dizer, porque tenho medo de dizer as coisas, acho que tenho que entender as coisas muito bem antes de falar, ele é muito incrível, porque ele me dá esse espaço para que eu me encontre sozinha, ao mesmo tempo também traz ideias que acabam sendo cruciais para a história e a fazem muito melhor. Então é isso, eu gosto muito desse processo onde a pessoa me dá espaço, mas também contribui com ideias que acabam ajudando a história.


Esse sempre vai ser o balanço, certo, Melanie? Aprender a ficarmos quietos às vezes.


Com toda certeza.


Sentarmos em um lugar e começarmos a pensar em conjunto. 


Pois, é.


Você está sempre pensando dentro do seu conceito quando você compõe nos dias de hoje? Ou às vezes você senta e pensa “Eu tenho essa ideia para uma música, já tenho um título!” ou é tudo sempre dentro do conceito hoje em dia?


Está tudo sempre dentro do contexto do conceito. Tipo, agora estou apegada nesse conceito, que está muito mais para a ideia de um filme saindo de minha cabeça, estou recém na página cinquenta e provavelmente terei que voltar e revisar essas poucas páginas de novo e de novo, até que eu organize tudo. Mas é isso, estou num lugar onde tenho um mapa geral, por exemplo, agora tenho um quadro no estúdio, escrevo nele o nome das treze faixas, e qual sentimento quero que tal faixa passe ou como elas irão soar, sobre o que a música irá se tratar de uma forma geral, porque assim ela se encaixará em alguma parte do filme que estou planejando em minha cabeça. Então estou trabalhando simultaneamente no filme e no álbum e antes eu só trabalhei no álbum primeiro e depois fiz o filme, é um trabalho novo para mim. É muito animador, mas tudo novo para mim é um pouco assustador e intimidador.


E quando você faz isso, quando você está trabalhando em um estúdio, os cantores são diferentes, alguns gostam de ter um treinador e serem guiados e terem alguém com eles dizendo “Tente isso, agora tente aquilo.” Você é mais assim ou “Eu sei o que tenho que fazer.”?


Sinto que sei exatamente o que preciso fazer, tipo, acho que descreveria o meu processo de gravação no estúdio como se estivesse andando por estes diferentes personagens, porque eu sou do tipo de pessoa que grava a mesma parte umas cem vezes, só porque estou tentando o tom deste personagem dentro da minha própria voz, para que se encaixe perfeitamente na música e conte o sentimento que eu quero sobre a música.


Então se trata de achar essa personagem, então quando eu a encontro, deixo ela guardadinha no meu bolso, porque sei que ela está ali e sei o que fazer com ela. Também gosto muito de ter acompanhamento para meus vocais, eu gosto de todo esse processo, para falar a verdade.


Quando você mencionou sobre a sua escrita, você disse que já tem cinquenta páginas, e também disse que vai ter que voltar e revisá-las, esse processo é diferente para você? Digamos escrever músicas versus um roteiro, tipo, você volta muito para editar as suas letras? Ou meio que deixa fluir, "isso é o produto final"?


Sim, eles são bem diferentes, escrever um roteiro se trata muito mais de ter que ficar voltando e editar para dar mais atenção aos detalhes, e com as minhas letras, sinto que depois que eu as escrevo é muito difícil para mim revisá-las, porque geralmente eu gosto de escrever do início ao fim ali na hora mesmo, porque às vezes quando você retorna para uma letra, você não está mais naquela exata energia ou sentindo aquele sentimento que estava naquele dia que escrevi toda aquela parte, então quando retorno para ela, eu já estou em outro lugar mentalmente, e tudo parece um pouco bagunçado, mas às vezes acaba de eu ter que fazer isso, porque penso “Ah, não gostei do som dessa ponte”, ou às vezes eu nem tenho uma ponte, e aí acabo tendo que escrever uma, então geralmente esse é o caso, eu tenho que pular a escrita da ponte, porque ela já é um sentimento mais a frente, então gosto de voltar e escrever ela justamente porque já estou em outra sintonia, e isso dá um outro sentimento para a ponte, que parece que estamos indo para algum outro lugar, entende?


E as harmonias? Você parece fazer o uso de harmonias muito detalhadas, isso sempre foi algo importante para você? É algo que você aprendeu quando era criança, ou é algo que acabou pegando gosto ao longo do tempo, depois que começou a visitar os estúdios?


Isso foi algo que ocorreu naturalmente após eu começar a gravar, eu pensava comigo “Continue gravando mais e mais.”, entende? Qualquer vocal escondido no fundo, harmonias, sussurros, muitas vezes eu crio e sobreponho várias camadas só destes sussurros para dar uma textura no áudio da música, sabe? Eu gosto muito disso.


Ou espirros, como em “Nurse’s Office”, haviam espirros nessa música, não era você, né? Ou era? 


Não, não era, mas eu amo esse tipo de sons, eu amo essas coisinhas, qualquer coisa que eu possa adicionar a uma música para torná-la mais estimulante no departamento visual, para que as pessoas que estão ouvindo possam saber exatamente o que está acontecendo na história, entende? Em “Nurse’s Office”, você encontra espirros, alguém tossindo, o som de um curativo sendo retirado, em “Wheels on the Bus” do K-12, nós também acabamos usando sons de carros, os sons do ônibus, alguém dirigindo, ligando os para-brisas, abrindo a porta, também fizemos isso em “Show & Tell” como o rodar das engrenagens da caixa de ventriloquismo, usamos o som de algumas correntes para que representassem você sendo posto para baixo e controlado, há tantos... Em “Orange Juice”, tem o barulho de alguém espremendo uma laranja para obter o suco, em outra canção temos o barulho de alguns balanços, em “Recess”, o murmúrio de algumas crianças em um pátio para dar ar a essa atmosfera. Todo esse processo de incorporar essas coisinhas em minhas músicas é muito divertido.


Eu estava bastante curioso, sobre onde você encontra todos esses sons, não necessariamente o local, mas... porque eu aprendi a não perguntar para as pessoas onde elas obtêm estes sons, sempre acaba dando errado, porque ninguém quer contar os seus segredos, mas eu fiquei curioso, porque estes tons infantis, às vezes parecem brinquedos e eu simplesmente não consigo lhe imaginar indo a uma venda de garagem para pegar o som que alguma coisa faz, você já fez isso?


Durante o “Cry Baby” sim, a gente acabou fazendo isso algumas vezes, até hoje na verdade, se algum de nós tem algum brinquedo que faça um barulho legal, a gente dá um jeito de incluí-lo de alguma forma para criarmos algo com ele. Mas o processo por trás da criação do “Cry Baby” foi basicamente assim, nós fomos até, quer dizer, tem algumas músicas que acabaram não sendo lançadas, mas tem essa música na qual a gente acabou indo em uma loja de 99 centavos, porque a música se chama “99 Cent Store”, então fomos em uma dessas lojas e pegamos vários brinquedos que acendiam e faziam sons estranhos e coisas do tipo e acabamos usando isso em uma música, que acabou ficando bem legal, mas acabou não entrando no álbum devido a história e tudo mais, era uma música muito boa, eu gosto de fazer esse tipo de coisa, é bem divertido. 


Isso é interessante, tipo, quantas vezes você faz cortes na música. Quantas vezes você fez músicas que por algum motivo não tiveram cortes, e talvez você ainda goste delas, mas elas não verão a luz do dia, necessariamente?


Sim... Sou muito decisiva, eu sinto como se eu soubesse, geralmente, digo geralmente, porque o “After School” é uma espécie de processo diferente, mas com o “Cry Baby” eu tinha muita certeza de quais músicas eu queria que estivessem no álbum, porque eu estava juntando as músicas para formar um enredo, então eu precisava ter certeza de que elas se encaixassem e contassem uma história, não era como um monte de músicas juntas, sabe? Então depende, com o K-12 também, depois de escrever as músicas, juntei o enredo e depois escrevi o filme, que expressou mais do que era o enredo. Mas o After School é muito diferente, porque é um EP, então não era assim, era tipo uma segunda parte do K-12, eu tinha tantas músicas extras para colocar e eu ficava tipo "Ah não, eu quero colocar essa música" ou "Mas eu amo demais essa", porém eu só podia colocar 7 músicas, então eu ficava "Ah, isso é tão difícil". Mas de última hora, "Glued" e "Field Trip" quase não foram pro EP, elas tinham um tipo de alternância entre outras músicas, então eu tinha que colocá-las, porque eu tive uma boa sensação, e agora estou feliz por ter feito isso.


Funcionou muito bem com o K-12. O mais interessante é "Play Date", que teve um ressurgimento, com tudo o que aconteceu, o TikTok e essas coisas, foram como uma surpresa para você? Ela foi bem sucedida desde o começo e agora, depois de cinco anos, ainda mais. Foi demais!


Sim, sim, foi uma surpresa incrível. Definitivamente como um pequeno presente na minha porta em um dia aleatório, foi muito legal, então eu fico muito feliz em saber que as pessoas estão se conectando com essa música, mesmo depois de cinco anos, é muito legal!


Falando agora do K-12, me diga no que você estava pensando enquanto criava, você já estava pensando em fazer o filme ou você estava tipo "Estou fazendo isso e quero fazer um filme", como você fez para esses dois se juntarem?


O K-12 foi um processo interessante, porque descobri que queria fazer um filme. No começo, mesmo com o Cry Baby, eu queria fazer essa peça maior de filme visual para o álbum, mas eu não sabia que os novos artistas quando chegam nas gravadoras recebem ordens de que só são permitidos gravar dois clipes musicais para um álbum. Porém eu me convenci a fazer mais clipes, eu tinha que fazer 13 clipes, e isso levou um tempo, anos, escrevendo os tratamentos de vídeo, poder ver como seriam gravados e depois de fazer 13 clipes, eu só queria continuar o meu trabalho, fazendo uma obra única que tivesse um início e um fim, e ouvir todas as músicas dentro dela, juntamente com a história disposta de uma maneira muito clara. "É um filme, então eu vou fazer isso, porque parece ser a melhor maneira de contar a história." Então veio o K-12, eu escrevi o álbum e acho que é isso, só fui e deu certo. Felizmente, a Atlantic Records me deu muito apoio com essa ideia e eles me incentivaram a continuar e meio que deixar eu explorar essa energia criativa e usá-la para fazer algo que eu nunca tinha feito antes. Eu estou muito feliz por eles estarem lá, porque foi um processo muito intenso e eles sempre estiveram comigo e eu sou muito grata por tudo.


Eu ia perguntar a você sobre a arte e o comercial, sabe, juntar as duas coisas, e para alguém como você que é uma artista, e já é desde o início com a sua primeira aparição. Quão difícil é isso para equilibrar? que você quer ser bem sucedida, isso é óbvio, você quer que muitas pessoas ouçam sua música e ao mesmo tempo você diz que não vai fazer músicas para apelar por audiência, ou coisas desse tipo. Como tem sido o processo para você, agora que você está passando por esse processo de "estou envelhecendo e fazendo música."


Quando eu era mais nova no meu primeiro álbum, não estava pensando nisso, porque era tipo “Eu só quero fazer esse conceito”, escrevia todo dia tentando juntar essa ideia para poder fazer meu primeiro projeto, então no K-12 acho que não pensei muito no que deveria fazer ou o que as pessoas esperavam de mim, sinto que é muito importante ter certeza de sua visão e se agarrar a isso, se expressar do jeito que você quer, pois no final quando eu morrer quero olhar para o passado e sentir orgulho do meu trabalho, eu não quero olhar para uma música e pensar que eu poderia fazer melhor, não quero ter feito só para agradar a gravador, ou tentar me abrir para um público além do específico e está tudo bem que meu público seja específico, eles são muito parecidos comigo, eu me vejo nessas pessoas que escutam minha música e é muito especial se expressar e atrair pessoas que estão na mesma vibração, e criar essa energia juntos, apresentar shows para essas pessoas que se conectam com a música. É um sentimento muito intenso ser quem eu sou quando escrevo e quando performo, é muito importante ser quem você realmente é, pois isso atrai as pessoas que se identificam com aquilo.


Qual foi a mudança no processo em estúdio do Cry Baby para o K-12? Você está diferente no estúdio, está mais rápida, sabe o que quer? Como tem sido para você?


É sempre diferente, depende muito, alguns dias eu vou ao estúdio, tipo produzindo o Cry Baby e escrevendo, mas têm dias que meu cérebro simplesmente não funciona, eu não consigo pensar em nada, nenhuma melodia vem, nem letras é como se nada estivesse acontecendo no meu cérebro, apenas vazio, e nesses momentos chamo as pessoas que eu trabalho como o Kinetics & One Love ou Michael Keenan e assistimos filmes que nos inspiram e pensamos em coisas bem interessantes, sem esse momento de respiro, para agrupar os pensamentos e nos deixar sermos inspirados por algo que não vimos antes ou algo que queremos rever para ter inspiração... eu acho que esses momentos são muito importantes para o processo.


Você já se sentiu pressionada, depois que assinou com a gravadora, ficou pensando nisso ou sempre foi mais de boa e deixou as coisas acontecerem?


Eu sempre fui boa em deixar acontecer, eu sou muito crítica comigo mesma, então sinto que a pressão não vem das outras pessoas, mas sim de mim mesma, por exemplo, eu posso escrever uma música e todo mundo vai falar que ficou maravilhosa e eu vou estar tipo “Visualmente, não é o suficiente, eu não contei a história completa do jeito que queria”, sou bem dura comigo, tenho esse padrão de qualidade na minha cabeça, e não tem nada a ver com a visão das pessoas em relação a minha arte, se eu não alcançar aquele padrão, eu me cobro muito.


Você é uma artista, não é mesmo? Tem o lado negativo e o bom disso.


Com certeza.


Sonoramente falando, qual dessas partes mais pesou para você quando criou o K-12? Estava à procura de algo novo? Como conseguiu e qual foi o método usado para chegar a sonoridade que queria?


A adição da parte visual. Tem muita sonoplastia no filme K-12, barulhos característicos, esse foi o progresso, gosto muito de fazer isso agora, é uma parte importante da minha música. Então sonoramente, o Cry Baby tinha mais sons de brinquedos e outros tipos de sons que remetesse a nostalgia ou que me levasse a minha infância, enquanto K-12 era mais sobre escola, então eu queria sons que lembrasse lápis batendo na carteira, pequenos momentos que fizessem você se sentir na escola. Farei o mesmo com meu próximo álbum, dentro do tema.


E sem revelar muito, é seguro dizer que a personagem continue e haja outras aventuras ou não pode dizer? Me diga. (Risos de Melanie) Vou levar isso como sim.



Vamos dizer que a Cry Baby evolui, isto é tudo o que eu posso dizer, a Cry Baby evolui.


O mais novo EP After School, é bem interessante, porque ele é independente e, ainda assim, obviamente faz parte da versão deluxe do K-12. Você sentiu que, acho que você disse que é uma espécie de segunda parte, um adendo para o projeto K-12?


É uma parte dois no conceito, mas não no enredo, porque não há um enredo no EP After School, é  uma coleção de canções que escrevi durante esses três anos de auto descoberta e tentando entender certas lições de vida, estava expressando as lições, mesmo que fosse inconscientemente, tipo, quando escrevi "Glued", não me lembro bem, estávamos curtindo o momento e escrevendo o que vinha na mente, eu não estava pensando criticamente em "Glued", mas aconteceu e então quando olhei para trás, e percebi que escrevi sobre lições que estava aprendendo, tipo não podemos ser muito apegados a pessoa, você pode acabar se machucando e também não ser muito desapegados, porque então você não sentirá qualquer profundidade de amor ou seja o que for. É sobre desapego e apego saudável, esse tipo de coisa. Essa música foi bem pessoal. Foi a primeira vez que lancei um projeto, que não foi especialmente através da visão da Cry Baby, foi minha própria visão, tem músicas sobre términos e mais músicas pessoal como "Field Trip", que é algo que nunca havia feito antes, é puramente sobre mim e quem sou como pessoa, é difícil fazer isso, depois de criar uma personagem e escrever através do olhos dela por tanto tempo, era muito complicado apresentar minha vulnerabilidade, porém também muito libertador para mim, porque eu estava me expressando de uma forma que nunca tinha feito antes.


O que resta para você fazer o que você não fez? Eu sei que há projetos que quer fazer. Você está fazendo filmes, está fazendo um monte de coisas como atuar e etc. Há outras coisas no horizonte para você que você goste? Tipo "Eu gostaria de passar a fazer mais disso", ou de coisas diferentes que você tem pensado?


Sim. Eu sempre penso sobre querer… Tipo quero muito fazer um livro de poesia e fotografia um dia em uma só obra. Amo fotografia, amo escrever poemas e gostaria de combinar isso, mas também gosto de... Adoraria começar algum tipo de linha de roupas, já adoro fazer designs, é algo que poderia fazer por horas quando estou entediada em casa, só pego meu iPad e começo a desenhar um monte de roupas. Então, há muitas coisas que gosto e que provavelmente vou começar a incorporar em projetos e outras coisas na minha vida, mas claro, fazer um filme e álbum têm prioridade.


Precisa de tempo, leva tempo para fazer essas coisas, elas não acontecem da noite para o dia.


Sim! Leva muito tempo.


Bem, agora será mais fácil, sente que aprendeu muito da primeira vez?


Eu espero que sim, nunca se sabe, né? As coisas mudam o tempo todo, eles serão mais fáceis, porque sei o que estou fazendo agora, mas também sempre procuro me desafiar a fazer algo que nunca fiz antes e com isso sempre vem essa o pensamento inevitável, esse sentimento de "Caramba! Isso é muito, como vou fazer isso?", mas é muito emocionante vendo do outro lado, porque você pode olhar para trás e se sentir orgulhosa do que fez.


Sim, quando esse sentimento parar, é quando você para de criar, certo? É por isso que você faz o que faz, por mais que você odeie as vezes. Bem, é ótimo ouvir alguns de seus insights e aprender mais sobre o que você faz e sua arte. Ouvir o seu processo por trás é muito interessante e agradecemos por nos dar um pouco seu tempo. Temos sorte que você vai apresentar algumas músicas para nós, então, todos fiquem atentos para isso e obrigado novamente por dedicar um tempo para estar conosco. Nós realmente agradecemos.


Muito obrigada, adorei conversar com você.


Digo o mesmo. Espero que um dia, talvez até pessoalmente. Haverá um público na nossa frente normalmente, não seria incrível?


Seria ótimo. 


Bem, obrigado a todos por assistirem esse episódio de "Behind the Songs", fiquem atentos para essa performance e até a próxima, eu serei seu apresentador Mark Conklin, encorajando você a fazer música e fazer a diferença e nos vemos na próxima vez."

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Assista a performance acústica de "Glued" aqui.

Confira a entrevista original aqui.

Tradução: Chris, David, Isa, Kenny e Maria Clara.

Revisão: Isa e Kenny.

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