Que K-12 é uma obra audiovisual que oferece experiências em diferentes camadas de sentido é inegável; Melanie Martinez e sua equipe trabalharam incansavelmente em cada detalhe da obra para entregar uma história que cause impacto e grande desconforto recheado de cores pastéis no contraste intencional que cause reflexões de assuntos pouco discutidos na música pop atual.
Produzido pela Youtube Music, Melanie Martinez dirigiu o episódio "Artist Spotlight Stories", onde Melanie convida o público a uma conexão mais profunda com o design, intenções e significado por trás de K-12; com a participação de Michael Keenan, produtor musical, William Scott Blair, cabeleireiro, e mais envolvidos no filme/álbum. Confira a tradução livre da equipe Melanie Daily Brasil logo a baixo do vídeo:
Histórias
dos Artistas em Destaque
Melanie
Martinez
Quando eu era mais nova, eu gostava muito de fotografia, eu gostava muito de criar sessões de fotos com amigos, eu os vestia, colocava maquiagem neles e arrumava seus cabelos. Eu fazia essas sessões caprichosas e mágicas. Eu acho que esse foi o meu primeiro contato com querer lançar algo visual e quando eu comecei a compor e fazer músicas, vi como eu podia juntas as duas coisas. E eu sou muito obcecada com ambas formas de arte, mas como eu misturo as duas? Então naturalmente eu era muito fã da arte visual.
Toda vez que eu escrevia uma música, eu imediatamente
conseguia ver um vídeo clipe em minha cabeça, eu sabia exatamente o que queria
que acontecesse em frente as câmeras.
Direção, definitivamente é algo que eu tive que aprender,
provavelmente foi a parte mais difícil de aprender, porque eu era muito tímida.
O que eu estava tentando conseguir com o K-12, era mostrar o
crescimento do jardim de infância até o terceiro ano do ensino médio, e que
cada música tivesse um visual para que você pudesse ver com clareza a história,
do começo ao fim, e a acompanhe com o personagem. Eu tive que cobrir alguns
temas que eram mais pesados, a vida não é somente arco-íris e borboletas. Eu
acho que é muito importante que demonstremos esses momentos mais obscuros, mais
reais e honestos, sentimentos e histórias que eu não acho que sejam exploradas
muito na música pop.
“Detenção”
“Você diz que é amor, mas eu não consigo acreditar. Querido
você pode me encontrar hoje a noite na detenção? Eu consigo sentir a sua
pressão arterial subindo, foda-se essa tensão. Deixe me entrar em sua mente, eu
mencionei?” (Detention)
Melanie Martinez: Nós começamos a trabalhar no álbum, logo após o Cry Baby ter sido lançado. Então começamos em...
Michael Keenan: Sim, logo depois...
Melanie: Logo depois.
Michael: Enquanto você estava em turnê.
Melanie: Sim, enquanto eu estava em turnê. Nós conseguimos
meio que juntar nossos processos criativos juntos, ou pelo menos o jeito que
escrevemos.
Michael: Sim.
Melanie: Enquanto ele trabalhava com as percussões, sabe? Eu
ficava no cantinho, trabalhando nas letras e melodias, tipo, tentando encontrar
e cantar melodias que naturalmente saiam de mim.
“Desde que eu faça dinheiro.” (Detention)
Michael: E todas as músicas, é muito legal ver como tudo se
encaixou, como se você estivesse passando por...
Melanie: Sim, e a gente nem pensou nisso. Nós estávamos
escrevendo as músicas completamente separadas e em um certo ponto eu resolvi
que queria que elas fossem do jardim de infância até o terceiro ano do
ensino médio.
Michael: Sim, todas as músicas têm barulhos específicos.
Melanie: Pois é.
Michael: Que se remetem ao assunto abrangido na música, para
que se pareça com um filme enquanto você escuta. Nós criamos todos as
músicas, tipo “Que música é essa chamada Class Fight...
Melanie: Porque nós estávamos criando sons.
Michael: Okay, vamos achar barulhos que se ouve em uma sala
de aula.”
Melanie: Sim, exatamente.
Michael: Como por exemplo: a régua batendo na mesa.
“A professora me deu um bilhete para que eu entregasse a
Kelly” (Class Fight)
Michael: Escrevendo no caderno.
Melanie: O som das embreagens ligando.
Michael: Sim, o ônibus.
Melanie: Isso.
Michael: A porta do ônibus se abrindo e as palhetas dos
limpadores de para-brisa.
Melanie: Sim, todos esses barulhos.
Michael: Todos eles. Transformamos todos eles em
instrumentos.
Melanie: Sim.
Michael: Basicamente. Um “kick”, um “snare” e um “hi hat”.
Um monte de barulhos estranhos deste tipo.
Melanie: Sim.
“.. Que está possuído por um demônio. Eu tentei fazer você
me ouvir, mas você se negou, este é o seu jeito, não é mesmo? Matando...” (The
Principal)
Michael: Eu estava muito animado com esse tipo de coisa.
Melanie: Eu sei.
Michael: Eu sinto que isso é muito especial.
Melanie: E é muito especial. E também, o jeito em que fizemos
isso, foi tão natural. Nós apenas estávamos achando estes sons e eu escrevia
títulos de músicas, que se encaixavam no tema escolar e tipo, eu pegava um título
que se encaixava com os sons que estávamos encontrando naquele momento.
Michael: Sim.
Melanie: E de verdade, tudo deu muito certo.
Michael: Sim.
Melanie: Certo. Criatividade não é algo que você possa
simplesmente tirar do nada, entende o que eu digo?
Michael: Sim.
Melanie: Você precisa estar no ambiente certo e se sentir
confortável o suficiente para receber essa informação.
Michael: Sim.
Melanie: Especialmente pra mim.
Michael: Exatamente.
Melanie: Porque o jeito que eu escrevo, é quase como se
fosse uma experiência fora do corpo.
Michael: Pois é.
Melanie: É quase como se eu não estivesse ali. Estou presente,
mas não me lembro de nada.
“Sessões de trilhagem sonora”
“Produção final”
“Cry Baby: Nós não temos muito tempo antes que estejamos altos
demais. Precisamos pular agora mesmo, na contagem até três.
Ben: Se nós pularmos, iremos morrer.
Cry Baby: Medo da morte é algo irracional agora, Ben! Nós
vamos morrer em alguns minutos ou tentamos sobreviver agora mesmo. Tá bem?”
Melanie: Depois de tudo, nós escutamos tudo e nos
perguntamos: “Por acaso a gente acabou de fazer essa ...
Michael: Sim.
Melanie: música? Tipo agora mesmo?” Não lembramos de nada
até ela ficar pronta.
Michael: Sim.
Melanie: Aí escutamos ela e ficamos “Oh, meu deus.”
Michael: Nós ficamos tipo, “O quê?”
Melanie: “O quê?”. É!
Michael: Aí escutamos umas oito milhões de vezes no carro.
Melanie: Sim.
Michael: A caminho de casa.
Melanie: Sim, literalmente.
No instante que eu termino de escrever uma música,
imediatamente consigo ver um clipe, e se eu não consigo ver um clipe, eu
geralmente não uso a música. Eu acho que como forma de áudio é bom para se ter
somente um sensor, mas aí você tem algo visual e você adiciona mais um sensor e isso ajuda as pessoas a vivenciar a história de uma forma mais profunda.
“Personagens”
Com o K-12, eu tinha uma visão tão clara daquilo que eu queria, desde as roupas até o como eu queria que os personagens fossem.
Maggie: Olá, eu sou a Maggie Budzyna e eu atuo como a Kelly.
Megan: Oi, eu sou a Megan Gage e eu atuo no papel da
Celeste.
Zinnett: Olá, eu sou a Zinnett e eu atuo como a Magnólia.
Zión: Oi, eu sou a Zión Moreno e eu atuo no papel da Fleur.
Emma: Oi, eu sou a Emma e eu faço a Angelita.
“Celeste: Oi.
Magnólia: Olá, é um prazer conhecer vocês meninas.
Celeste: Seja bem-vinda!”
Maggie: Como uma atriz, quando você quer atuar em um papel,
você não quer pensar nas coisas negativas sobre seu personagem. E mesmo que a
Kelly faça coisas que não são muito gentis, elas vêm de sua insegurança.
Melanie: Exatamente.
“Amiga de Kelly: Kelly!
Kelly: Pare, não me interrompa.”
Melanie: O jeito o qual ela responde a algumas situações, é
um mecanismo de defesa.
“Kelly: Por que você está tocando-a?”
Melanie: Todos nós já fomos umas merdinhas em algum
momento...
Emma: Sim.
Melanie: seja no ensino fundamental ou no ensino médio. Sabem
o que quero dizer? Um adolescente, emocionado e de mau temperamento. Eu achei
muito importante ter essas emoções naturais, as quais são muito difíceis de se
demonstrar em frente as câmeras. Especialmente quando você está tipo “Okay, a
câmera está ligada, agora eu tenho que entrar no personagem”.
Zión: Eu me vi muito semelhante a Fleur, especialmente
quando eu tinha a idade dela. Eu estava passando por minha transição, e na
minha vida eu estava sendo muito zombada, por não me parecer de certa forma ou
agir de certa forma. E eu senti muito do porque ela estava agindo daquele
jeito. Eu estava muito preocupada, na verdade, em atuar como uma personagem com
distúrbios alimentares.
Melanie: Sim.
Zión: Porque eu queria muito, aturar dum jeito o qual fosse
com respeito.
Melanie: Absolutamente.
Zión: E honesta.
Melanie: Sim.
Zión: E não como uma glorificação.
“E extremamente esmagador, quando todos em seu redor fazem
você se sentir como se não fosse bom o suficiente”
Zión: Eu tenho que te agradecer, infinitamente, por querer
uma mulher trans atuasse como uma mulher cis, sabe? Era um sonho meu,
honestamente.
Megan: Eu amo a Celeste, ela é bem forte e firme, eu aprecio
o fato dela se rebelar como uma pessoa sem papas na língua e nervosa.
“Celeste: Por que ninguém me escuta? Gente, a bola está
flutuando pra longe.”
Megan: Eu me sinto como se eu tivesse uma Celeste em mim e
ao mesmo tempo eu tento ficar calma, para que eu transpareça como, tipo “Gente
eu não sou nervosa.”
Zinnett: “Eu sou de tranquila.”
Megan: “Eu topo tudo.” E esse controle sobre sua personalidade
é o que eu mais gosto sobre ela.
“Em Budapeste, nos locais de filmagens do K-12”
Zinnett: A Magnólia definitivamente é completamente o oposto
disso.
Melanie: Sim.
Zinnett: Completamente o oposto, eu sou aquele tipo de
pessoa que fica tipo “Vamos simplesmente fazer”, esse tipo de coisa. Coração
puro.
Melanie: Absolutamente.
Zinnett: Carinhosa, oh meu deus, eu amei atuar como ela.
Melanie: Pateta, bobalhona.
Zineett: Sou eu.
Melanie: Espírito leve.
Maggie: É a Zinnett.
Melanie: Sim, é literalmente você.
“Magnólia: O que é isso?
Cry Baby: Eu acho que é uma carta de amor.
Magnólia: Uma carta de amor de quem?”
Emma: Eu amei atuar como a Angelita, ela é como uma mini
versão minha. Toda a minha personalidade.
Melanie: Absolutamente.
Emma: Então eu consegui trazer ela a vida. Ela é bem forte e
obscura. Então é bem divertido. Só um pouquinho obscura. Ela é uma ótima amiga
para a Cry Baby.
Melanie: Absolutamente.
Emma: Durante toda essa parte.
Melanie: Ela realmente é o ombro o qual a Cry Baby se apoia.
“Cry Baby: Você já se perguntou quem nós erámos uma pra
outra, em uma vida passada?
Angelita: Com toda certeza, nós provavelmente já tivemos
centenas de vidas juntas.”
Emma: Esse foi o meu primeiro filme, no qual eu pude
ultrapassar essas barreiras de demonstrar tantas emoções na frente de uma
equipe, que...
Melanie: Sim
Emma: Não achei que eu fosse capaz de fazer isso.
Melanie: Sim.
Emma: E com a sua ajuda eu fui capaz de passar por isso e me
esforcei.
Melanie: Foi muito importante que eu depositasse toda a
minha raiva nas câmeras porque era exatamente essa emoção que nós precisávamos
demonstrar. Eu estava gritando super alto, antes dela fazer o seu truque com a
faca. Isso, o truque da faca.
Megan: Pra mim, ter esse companheirismo feminino fez eu me
sentir tão bem e tão empoderada, foi muito enriquecedor. Quero dizer, eu amo a
cena de Strawberry Shortcake. A metáfora dos rapazes sendo tubarões que sempre
conseguem sentir o cheiro de sangue na água, assim que uma mulher menstrua, ela se torna a carne crua, pronta para ser consumida. E isso me marcou num nível tão
profundo, porque as pessoas acham que só porque você é sensual você é uma
pecadora. E eu acho que isso é algo muito importante pra se falar.
Melanie: Sim.
Megan: Porque o corpo feminino é um corpo feminino, não importa se é sexy ou não. Não deveria ser
a minha culpa, o fato que você não se aguenta.
“Bolinho de Morango”
“Eles nunca viram pele antes. Fui mandada para casa para trocar de roupa, porque a minha saia era muito curta.” (Strawberry Shortcake)
William Scott Blair: Eu e você trabalhamos tão bem juntos, porque...
Melanie: Sim.
William: Quando eu escuto a sua música, e quando eu entendo
a narrativa, consigo visualizar o cabelo.
Melanie: Absolutamente.
William. E Essa foi a primeira coisa que eu pensei quando eu ouvi Strawberry Shortcake, aí eu soube que
você estaria em cima de um bolo.
Melanie: Sim. Foi o perfeito creme no topo.
William: Foi o fim do jogo. Entende o que eu digo?
Melanie: Sim. Com toda certeza.
William: Você tem que ter esse cabelo.
Melanie: Sim.
William: E esse foi um dos meus momentos favoritos, ao
gravar o filme inteiro, porque a gente conversou sobre por tanto tempo.
Melanie: Sim.
William: E eu estava
assistindo as câmeras filmando, e eu literalmente estava chorando.
“É minha culpa, é minha culpa, ninguém os ensinou a não
agarrarem, agora os meninos querem provar o pouco do meu bolo de morango” (Strawberry Shortcake)
William: Você geralmente me manda um PDF cheio de
referências do que você está pensando, em geral. A rede é tão grande para
aquilo que você busca quando se trata de referências. Algumas vezes eu olho
para o PDF e logo do lado de uma referencia dos anos 30, tem uma referência de
1.700. Eu tenho que dissolver tudo para que se encaixa no mundo no qual
criamos para a Cry Baby.
“Enfermaria”
“Tudo, tudo, tudo isso. Então eles me levam. Me Levem pra
casa.” (Nurse's Office)
Eu acho que é importante, como uma artista, compartilhar as suas experiências pessoais de como você internaliza as coisas,
como você se sente ou do mundo ao seu redor ou do mundo o qual você está
tentando criar. Eu sinto que o meu intuito na Terra é falar sobre assuntos os
quais são mais pesados, porém importantes para se debater através da música,
porque a música é como uma terapia. Ela pode não só transmitir muita ajuda
através do escutar, mas também a partir da criação da música, igual qualquer outra forma
de arte. O meu objetivo em criar o filme era de demonstrar como a escola serve
como um paralelo para a vida e no fim do dia eu estou muito feliz com o K-12. E
eu coloquei todo o meu eu nele.
Tradução: Chris.
Revisão: Isa.
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